A Garça e a traíra
Sempre no final da tarde, no Rio
Paraíba do Sul, uma linda garça branca sondava aquelas águas cristalinas.
Voava, plainava e dava alguns rasantes. Seu corpo se tornava enorme quando suas
asas ficavam abertas. Suas penas brancas davam um tom magnífico à ave. Ela
lembrava um avião silencioso ao deixar sua sombra sobre o rio.
Certo dia, a garça estava em viagem
com outras amigas, seguindo o curso do rio em direção ao sul. E bateu aquele
desejo de se alimentar e parar para descansar. O bando seguia rápido. Mas sua
fome a deixava fraca. Resolveu então pousar.
- Vou descansar um pouco! – gritou a
ave ao grupo.
- Mas já. Nem chegamos à metade do
caminho. – respondeu uma amiga.
- Vou comer uns peixes aqui. – disse
a garça.
Ao pousar na beiro do rio, o grupo
de garças decidiu também parar. Pousaram numa árvore próxima ao rio. Parecia que
tinha nevado nos galhos de tanto animais brancos juntos.
A garça branca aproximou-se da água
e ficou paralisada. Com suas pernas finas, imóvel, parecia estátua. Mas ela
estava pronta para a caça e pronta para dar um bote ao primeiro peixe que
aproximasse.
Enquanto isso, no fundo do rio, se
encontrava um cardume de peixe. Tinha alguns lambaris, traíras e tilápias.
Todos estavam fazendo apostas de quem nadasse mais rápido. Esses peixes eram
jovens, cheios de energia, mas tinham um espírito de aventureiros. Os mais
velhos não aconselhavam ninguém a nadar perto da superfície, pois podiam
encontrar um mostro de bico grande.
- Nadadores! Vamos fazer um desafio?
– perguntou um peixe traíra.
- Qual? Adoro desafios! – respondeu
alguns lambaris.
- Vamos apostar corrida perto da
superfície? – disse a traíra.
- Nossa! Você ficou louco? Você não
sabe que é proibido nadar lá? – disse aflita uma tilápia.
- Sim, por isso proponho o desafio! –
argumentou o peixe.
- Não vou! Existe o mostro de bico
grande! – disse um lambari todo trêmulo.
- Vocês são covardes! Isso é um mito!
Não existe isso! É uma lenda do rei dos peixes. Quem topa? Eu dobro o valor do
prêmio. – retrucou o peixe traíra já se movimentando suas nadadeiras.
Os peixes ficaram encasquetados. Alguns
ficaram com medo, outros sentia um calor nas escamas de vontade de subir. Como
todo jovem gosta de desafios. Decidiram todos ir correr na superfície.
Começaram a corrida. O peixe traíra
ficou na largada marcando o tempo. Os peixes dispararam e disputaram quem era mais
rápido na corrente das águas. Quando de repente. Tibluumm... Um bico enorme
cortou a lâmina d´água. Foi se uma tilápia.
Vendo aquele grande mostro cortar a
água, os peixes ficaram apavorados. – É o mostro do bico grande! – gritava os
peixes. Não levou muito tempo e lá apareceram outros bicos e mais bicos, umas
infinidades de bicos arrebanhando os peixes. Nem lambari escapou.
Aquele terror nada mais era, que a
garça branca pegando os peixes no rio. Logo que ela pegou alguns escamados
grandes, o bando que estava na árvore, também foi em direção á água. Ao
enxergaram o cardume pelas águas transparentes, e não teve outra, abocanharam
os peixes suculentos numa rapidez sem tamanho.
A traíra vendo seus amigos morrerem
fugiu num único nado. Desapareceu para o fundo. Os peixes que conseguiam
escapar gritavam:
- Sua traíra! Volte aqui nos ajudar!
Não teve jeito, ela largou-os. Chegando
ao fundo do rio, ela contou para outros peixes que tinha visto o mostro de bico
grande. Ninguém acreditou. Disseram que é lenda. Não existe. E a traíra
entendeu muito bem a sabedoria dos peixes mais velhos: Não nade na superfície,
é perigoso!
Já a garça branca, satisfeita com seu
lanche. Seguiu seu caminho com as outras garças. Continuou a viagem pelo curso
do Rio Paraíba do Sul.
Marcelo
Fernandes abril 2016
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