quinta-feira, 28 de abril de 2016

A garça e a traíra



 A Garça e a traíra


Sempre no final da tarde, no Rio Paraíba do Sul, uma linda garça branca sondava aquelas águas cristalinas. Voava, plainava e dava alguns rasantes. Seu corpo se tornava enorme quando suas asas ficavam abertas. Suas penas brancas davam um tom magnífico à ave. Ela lembrava um avião silencioso ao deixar sua sombra sobre o rio.
Certo dia, a garça estava em viagem com outras amigas, seguindo o curso do rio em direção ao sul. E bateu aquele desejo de se alimentar e parar para descansar. O bando seguia rápido. Mas sua fome a deixava fraca. Resolveu então pousar.
- Vou descansar um pouco! – gritou a ave ao grupo.
- Mas já. Nem chegamos à metade do caminho. – respondeu uma amiga.
- Vou comer uns peixes aqui. – disse a garça.
Ao pousar na beiro do rio, o grupo de garças decidiu também parar. Pousaram numa árvore próxima ao rio. Parecia que tinha nevado nos galhos de tanto animais brancos juntos. 
A garça branca aproximou-se da água e ficou paralisada. Com suas pernas finas, imóvel, parecia estátua. Mas ela estava pronta para a caça e pronta para dar um bote ao primeiro peixe que aproximasse.
Enquanto isso, no fundo do rio, se encontrava um cardume de peixe. Tinha alguns lambaris, traíras e tilápias. Todos estavam fazendo apostas de quem nadasse mais rápido. Esses peixes eram jovens, cheios de energia, mas tinham um espírito de aventureiros. Os mais velhos não aconselhavam ninguém a nadar perto da superfície, pois podiam encontrar um mostro de bico grande.
- Nadadores! Vamos fazer um desafio? – perguntou um peixe traíra.
- Qual? Adoro desafios! – respondeu alguns lambaris.
- Vamos apostar corrida perto da superfície? – disse a traíra.
         - Nossa! Você ficou louco? Você não sabe que é proibido nadar lá? – disse aflita uma tilápia.
         - Sim, por isso proponho o desafio! – argumentou o peixe.
         - Não vou! Existe o mostro de bico grande! – disse um lambari todo trêmulo.
         - Vocês são covardes! Isso é um mito! Não existe isso! É uma lenda do rei dos peixes. Quem topa? Eu dobro o valor do prêmio. – retrucou o peixe traíra já se movimentando suas nadadeiras.
         Os peixes ficaram encasquetados. Alguns ficaram com medo, outros sentia um calor nas escamas de vontade de subir. Como todo jovem gosta de desafios. Decidiram todos ir correr na superfície.
Começaram a corrida. O peixe traíra ficou na largada marcando o tempo. Os peixes dispararam e disputaram quem era mais rápido na corrente das águas. Quando de repente. Tibluumm... Um bico enorme cortou a lâmina d´água. Foi se uma tilápia.
         Vendo aquele grande mostro cortar a água, os peixes ficaram apavorados. – É o mostro do bico grande! – gritava os peixes. Não levou muito tempo e lá apareceram outros bicos e mais bicos, umas infinidades de bicos arrebanhando os peixes. Nem lambari escapou.
         Aquele terror nada mais era, que a garça branca pegando os peixes no rio. Logo que ela pegou alguns escamados grandes, o bando que estava na árvore, também foi em direção á água. Ao enxergaram o cardume pelas águas transparentes, e não teve outra, abocanharam os peixes suculentos numa rapidez sem tamanho.
         A traíra vendo seus amigos morrerem fugiu num único nado. Desapareceu para o fundo. Os peixes que conseguiam escapar gritavam:
         - Sua traíra! Volte aqui nos ajudar!
         Não teve jeito, ela largou-os. Chegando ao fundo do rio, ela contou para outros peixes que tinha visto o mostro de bico grande. Ninguém acreditou. Disseram que é lenda. Não existe. E a traíra entendeu muito bem a sabedoria dos peixes mais velhos: Não nade na superfície, é perigoso!
         Já a garça branca, satisfeita com seu lanche. Seguiu seu caminho com as outras garças. Continuou a viagem pelo curso do Rio Paraíba do Sul.
Marcelo Fernandes abril 2016

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