domingo, 24 de abril de 2016

O guardião Preguiça



O guardião preguiça
Há muito tempo atrás, na região do Vale do Paraíba, aconteceu um casamento de duas corujas. Foi um alvoroço só entre os bichos, houve muita expectativa para preparação daquele momento tão bonito, que é a cerimônia e a festa. As corujinhas se dedicaram meses na elaboração de todos os detalhes.
         Elas escolheram o melhor lugar na Floresta. Local de grande quantidade de frutas e sementes para se alimentar. Contrataram o melhor Buffet da Floresta. Eles já tinham feito a festa das Maritacas, o aniversário das araras, etc. Não faltou disposição para recriar aquele ambiente de altas árvores e muitos cipós.
         Contratou a estilista Arara Azul da Amazônia para preparar os vestidos, o florista Beija-flor só para organizar as orquídeas, os lírios e as rosas brancas do lugar.  A ambientação deixou as fêmeas encantadas. Os machos estavam de olho nas sementes e nas bebidas prometidas na festa. Por sinal, qual animal não gosta de beber na festa?!
         E as corujas, dias e noites, preparando os convites com as folhas secas enfeitadas com a raiz das melhores plantas. Tudo era feito nos mínimos detalhes. Um capricho de coruja. As aves deixaram os convites para amigos, os parentes e diversos animais do Vale do Paraíba.
         A TV Floresta começou a divulgar, e a Rádio Tagarela anunciou o grande evento. Todos conheciam as duas corujinhas. Era o xodó da região. A fama das aves estendia por todo Vale. Era honroso ser convidado para aquele casamento. A floresta podia acolher todos. Macacos Sagüis, aves de todo tipo, lagartos e os répteis, até alguns peixes conseguiram equipamentos para respirar fora d´água, tamanha era a vontade de participar.
         A local da cerimônia seria feita pela ave João de Barro e a celebração feita pelo inseto Louva-a-deus. No acolhimento contrataram as Maritacas, gente expressiva e simpática. Na segurança acabaram pegando o bicho preguiça. Ele se ofereceu para ajudar. Queria fazer algo pelas corujinhas. Elas resolveram ceder a portaria da festa para agradá-lo.
         Então, chegou o grande dia!
         - Sejam bem vindos! Senhores e Senhoras! – dizia as maritacas
         - Boas noites! Animais queridos! – dizia a recepção para os convidados que iam chegando.
         Entravam os Sagüis com seus pelos brilhantes e chapinhas. Os pássaros com suas penas exuberantes, o Tucano com o bico ilustrado. Os besouros chegavam brilhando. Mas brilhantes mesmo estavam os vaga-lumes! Iluminavam o local e a festa. E as cigarras com os sabiás faziam seus sons pela noite toda.
         Entre um convidado e outro, a preguiça dava as indicações de segurança, prestando atenção em tudo. Tudo estava correndo muito bem! Quando as corujinhas chegaram. Foi à festa! Admiração e prestígio na roupa da noiva. Tudo na maior etiqueta florestal.
         - A corujinha está linda! – dizia as araras.
         - Ela merece! – conclamava os familiares das corujas.
         - Seus olhos estão brilhantes de alegria! - afirmavam os bem-te-vis.
         Bom... Vida de animal na floresta tem seus preços. A cadeia alimentar tem se manter. Como a festa foi muito divulgada. Os predadores ficaram sabendo que ia ter uma aglomeração de animais. E lá foi a Onça, fazer sua refeição a modo cardápio. Escolher o bom jantar!
         - Vou escolher a melhor refeição hoje! – pensou a Onça. – Com tanto animais por perto, um pelo menos não me escapa!
         O bicho preguiça estava de vigia. Estava ouvindo as cantorias e parecia tudo calmo. Pensou consigo: - Bom tudo está tranqüilo por aqui. Acho que posso tirar um cochilo? Mas ele não imaginava o perigo. A felina estava chegando.
         Um passo aqui, outro ali. Tudo bem pensado e farejado. Já aproximava o terror da floresta. E a preguiça no cochilo de roncar. Uma viradinha aqui, outra ali. Quando de repente...  A onça já tinha passado a portaria.
         - Pelas aves do Céu! A pintada chegou! E agora? Todos estão em perigo. Tenho que correr para avisar a todos! – murmurou o bicho preguiça.
         Como correr na frente da onça? Já estava difícil resolver a situação. Se tentar avisar, ela vai perceber e correr para cima de todos! E o bicho preguiça decidiu. Ele é o guardião da festa. Encheu seu peito, colocou suas grandes unhas na boca. E lançou um assobio enorme:
         - Fiiiiuuufiiiiiiii......
         As maritacas ouviram o assobio, começou a tagarelar e a gritar por todos os cantos da floresta do perigo da felina. Foi uma correria total. Mas como um bom guardião e segurança não se presa. Preguiça conhecia bons animais de briga. E sempre combinou que um assobio repetido duas vezes era sinal de pedir ajuda. E logo lançou com suas unhas vibrantes:
         - Fiiiiuuufiiiiiiii...... - Fiiiiuuufiiiiiiii......
         E do meio do mato saíram capivaras, cachorros do mato e porcos espinhos, todos com sua rivalidade para cima da Jaguatirica. Vieram algumas sucuris e cobras corais. E não deu outra. A fera parou e não quis enfrentá-los. Recuou e sumiu na mata toda medrosa.
         Por fim, todos ficaram salvos. Preguiça agradeceu aos amigos valentes. E a festa continuou com mais alegria e vibração. E as corujinhas agradeceram ao guardião preguiça e aos valentes animais. Todos foram convidados a participar da festa! E o bicho preguiça preferiu continuar na portaria:
         - Afinal sou o guardião da festa. Tenho que manter meu posto!
E lá ficou o bichinho todo preguiçoso, guardando o famoso casamento, quem sabe de prontidão pela volta da felina.
- Não há nada de mal tirar um cochilinho? – pensou a preguiça já se encostando aos troncos da grande árvore.







Marcelo Fernandes
Contos do Vale do Paraíba
Literatura infantil – abril 2016
marcelofsdb@yahoo.com.br

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