O
guardião preguiça
Há muito tempo atrás, na região do
Vale do Paraíba, aconteceu um casamento de duas corujas. Foi um alvoroço só
entre os bichos, houve muita expectativa para preparação daquele momento tão
bonito, que é a cerimônia e a festa. As corujinhas se dedicaram meses na
elaboração de todos os detalhes.
Elas escolheram o melhor lugar na
Floresta. Local de grande quantidade de frutas e sementes para se alimentar.
Contrataram o melhor Buffet da Floresta. Eles já tinham feito a festa das
Maritacas, o aniversário das araras, etc. Não faltou disposição para recriar
aquele ambiente de altas árvores e muitos cipós.
Contratou a estilista Arara Azul da
Amazônia para preparar os vestidos, o florista Beija-flor só para organizar as
orquídeas, os lírios e as rosas brancas do lugar. A ambientação deixou as fêmeas encantadas. Os
machos estavam de olho nas sementes e nas bebidas prometidas na festa. Por
sinal, qual animal não gosta de beber na festa?!
E as corujas, dias e noites, preparando
os convites com as folhas secas enfeitadas com a raiz das melhores plantas.
Tudo era feito nos mínimos detalhes. Um capricho de coruja. As aves deixaram os
convites para amigos, os parentes e diversos animais do Vale do Paraíba.
A TV Floresta começou a divulgar, e a
Rádio Tagarela anunciou o grande evento. Todos conheciam as duas corujinhas.
Era o xodó da região. A fama das aves estendia por todo Vale. Era honroso ser
convidado para aquele casamento. A floresta podia acolher todos. Macacos Sagüis,
aves de todo tipo, lagartos e os répteis, até alguns peixes conseguiram
equipamentos para respirar fora d´água, tamanha era a vontade de participar.
A local da cerimônia seria feita pela
ave João de Barro e a celebração feita pelo inseto Louva-a-deus. No acolhimento
contrataram as Maritacas, gente expressiva e simpática. Na segurança acabaram
pegando o bicho preguiça. Ele se ofereceu para ajudar. Queria fazer algo pelas
corujinhas. Elas resolveram ceder a portaria da festa para agradá-lo.
Então, chegou o grande dia!
- Sejam bem vindos! Senhores e
Senhoras! – dizia as maritacas
- Boas noites! Animais queridos! –
dizia a recepção para os convidados que iam chegando.
Entravam os Sagüis com seus pelos brilhantes
e chapinhas. Os pássaros com suas penas exuberantes, o Tucano com o bico ilustrado.
Os besouros chegavam brilhando. Mas brilhantes mesmo estavam os vaga-lumes!
Iluminavam o local e a festa. E as cigarras com os sabiás faziam seus sons pela
noite toda.
Entre um convidado e outro, a preguiça
dava as indicações de segurança, prestando atenção em tudo. Tudo estava
correndo muito bem! Quando as corujinhas chegaram. Foi à festa! Admiração e
prestígio na roupa da noiva. Tudo na maior etiqueta florestal.
- A corujinha está linda! – dizia as
araras.
- Ela merece! – conclamava os
familiares das corujas.
- Seus olhos estão brilhantes de
alegria! - afirmavam os bem-te-vis.
Bom... Vida de animal na floresta tem
seus preços. A cadeia alimentar tem se manter. Como a festa foi muito
divulgada. Os predadores ficaram sabendo que ia ter uma aglomeração de animais.
E lá foi a Onça, fazer sua refeição a modo cardápio. Escolher o bom jantar!
- Vou escolher a melhor refeição hoje!
– pensou a Onça. – Com tanto animais por perto, um pelo menos não me escapa!
O bicho preguiça estava de vigia.
Estava ouvindo as cantorias e parecia tudo calmo. Pensou consigo: - Bom tudo
está tranqüilo por aqui. Acho que posso tirar um cochilo? Mas ele não imaginava
o perigo. A felina estava chegando.
Um passo aqui, outro ali. Tudo bem
pensado e farejado. Já aproximava o terror da floresta. E a preguiça no cochilo
de roncar. Uma viradinha aqui, outra ali. Quando de repente... A onça já tinha passado a portaria.
- Pelas aves do Céu! A pintada chegou!
E agora? Todos estão em perigo. Tenho que correr para avisar a todos! –
murmurou o bicho preguiça.
Como correr na frente da onça? Já
estava difícil resolver a situação. Se tentar avisar, ela vai perceber e correr
para cima de todos! E o bicho preguiça decidiu. Ele é o guardião da festa.
Encheu seu peito, colocou suas grandes unhas na boca. E lançou um assobio
enorme:
- Fiiiiuuufiiiiiiii......
As maritacas ouviram o assobio, começou
a tagarelar e a gritar por todos os cantos da floresta do perigo da felina. Foi
uma correria total. Mas como um bom guardião e segurança não se presa. Preguiça
conhecia bons animais de briga. E sempre combinou que um assobio repetido duas
vezes era sinal de pedir ajuda. E logo lançou com suas unhas vibrantes:
- Fiiiiuuufiiiiiiii...... -
Fiiiiuuufiiiiiiii......
E do meio do mato saíram capivaras,
cachorros do mato e porcos espinhos, todos com sua rivalidade para cima da
Jaguatirica. Vieram algumas sucuris e cobras corais. E não deu outra. A fera
parou e não quis enfrentá-los. Recuou e sumiu na mata toda medrosa.
Por fim, todos ficaram salvos. Preguiça
agradeceu aos amigos valentes. E a festa continuou com mais alegria e vibração.
E as corujinhas agradeceram ao guardião preguiça e aos valentes animais. Todos
foram convidados a participar da festa! E o bicho preguiça preferiu continuar
na portaria:
- Afinal sou o guardião da festa. Tenho
que manter meu posto!
E lá ficou o bichinho todo
preguiçoso, guardando o famoso casamento, quem sabe de prontidão pela volta da
felina.
- Não há nada de mal tirar um
cochilinho? – pensou a preguiça já se encostando aos troncos da grande árvore.
Marcelo
Fernandes
Contos
do Vale do Paraíba
Literatura
infantil – abril 2016
marcelofsdb@yahoo.com.br
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