A
natureza é divina.
Era manhã ensolarada naquele paraíso. O
ar estava fresco, após uma longa noite de perda de calor. A primavera já havia
chegado. O sol estava esquentando aquele horizonte que ia nascendo. Uma luz
forte dava a natureza um tom de despertar. – Que lindo dia! Nunca vi tal beleza
em meus olhos! Neste mesmo momento, caminhavam dois anjos em tons de conversa
profunda, como se estivessem vivido uma experiência nova, e contava um ao outro
sua grande descoberta. O curioso é que os anjos eram tão perfeitos que estavam
dando a aquela bela paisagem um tom celestial. Suas vozes iam entrando nos
ouvidos como uma suave pronuncia da voz de um Deus. Tudo era muito perfeito.
Prostrado com tal afeição para aquele assunto, um dos anjos contou em tom
firme: - que história eu conheci ontem! O outro disse com um olhar curioso: - o
que viste?
O tempo estava quase escuro, quando vi uma
ave com seu instinto materno, protegendo seu lindo ovo. Era exuberante, grande,
e tinha uma cor esbranquiçada. A ave tinha uma pena vermelha, e conforme ia
descendo em seu corpo, a cor tornava-se alaranjada. Tinha um bico forte como um
gancho que quebrava tudo que fosse duro. Naquele local tinha muitas árvores, de
todos os tipos. Grandes, pequenas, verdes escuras, verdes claros. Folhas
compridas e pequenas faziam cabanas para os animais pequenos, e algumas árvores
eram grandes, como que formando paredes enormes na frente de quem passava.
Havia também pastos, mas eram poucos. O que tinha mesmo eram variedades de
plantas e diversos animais pequenos formando um ciclo ecológico, um habitat
natural de um mundo animal. Dizem que é o ciclo da vida. Mas o interessante é
que naquele momento que a aquela ave protegia seu ninho em volta de si, com
suspiros fortes apareceu um animal estranho. Tinha grandes dentes, uma força
concentrada em ritmo de tensão, e dava passos pequenos e calmos, mas sempre com
um objetivo. Seu olhar era de um observador feroz. Dava voltas e voltas em
torno daquele ninho. O instinto animal de proteção aguçou sua postura, fez uma
envergadura de quem era uma grande ave da floresta e deu um grito, de modo que
expressava: - estou pronto para guerra! Um instinto materno de que dar a vida
por sua cria era definitivamente sua missão. O barulho se fez naquele instante.
Estremeceu tudo, fumaça se fez. Após aquele momento tumultuoso que levou horas,
a ave com suas forças já abatidas, e percebendo que estava longe de sua cria
voltou apavorada para seu ninho. Com um tom de paralisação, a ave não viu mais
sua cria. Tal desespero levou a ir de um lado para outro em várias direções.
Pulos e gritos não foram suficientes para encontrar seu ovo. O ar ficou gélido
para aquele ciclo.
- O que aconteceu? E você não fez nada
para mudar tal situação? Disse o outro anjo sem menos entender o tom daquela
experiência.
Um ser humano em sua ambição aproveitou
o momento fúnebre, e pegou o ovo bem discretamente e levou consigo. Como um
caçador maldoso. Destruindo aquele ciclo natural dos animais. Aquele ser disse
em voz baixa para sua consciência: - tenho tudo que queria. Consegui possuir
meus desejos. Fiz o que era melhor para mim. Venci. Agora vou levar meu dever
para minha casa. Farei do ovo minha relíquia, meu museu, minha história. Serei
grande e viverei como rei, porque consegui o ovo mais procurado e extinto do
mundo. Mas enquanto ele a contemplar a sua conquista, num bote forte, ágil e
com a segurança do objetivo, um animal faminto que ora observava a ave, devorou
aquele ser humano frágil em
segundos. A ave materna vendo tal acontecimento perto de si,
num pulso veloz pegou seu ovo e levou-o em um local seguro. Ao perceber que não
havia mais nada a fazer, pois tudo havia se tranqüilizado suspirou em tom de
vencedora. A mãe natureza fez tudo a seu favor.
Naquele exato segundo um suspiro veio
a mim. Senti um cala frio ao escutar aquela história. Os dois anjos começaram a
sumir no horizonte. O que era belo se tornou em um instante escuro e tenebroso.
O medo apoderou-se nas entranhas, e senti que a pele se desfazia, sumia. Não me
reconheci mais. Alma se desfez. Não vi mais nada a partir daquele dia. Só ficou
uma única coisa, uma frase: - Nunca deveria ter mexido na natureza! Ela é
divina!
Marcelo
Fernandes dos Santos/ 17 de outubro 2006
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