segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Conto - A Seca



A Seca

Um brilho resplandecente tocou os olhos. Era verão. – que calor! Estava cheio de gotas escorridas no corpo na direção do chão, lavando a alma daquele que sentia a angústia de ser dominado pela consciência. Em dado momento é chegada à hora de dizer para si mesmo: o que vai acontecer? Dominação, velocidade, crescimento e aperto. Tudo num reflexo de segundo. Tudo não compreendido por ninguém, a não ser pelo ocultismo.
As duras superfícies exalam um cheio sofrido. Um clamor de vingança, de dor e de revolta. Face-se a noite. Tudo esfria como no inverno, nada mais pode segurar o desaparecimento do amor. Nada pode alegrar tal situação se não for à esperança do futuro. De acontecer à volta ao paraíso verde. De não descobrir ao certo, quem do seu próprio seio nasceu. As faces daquele lugar se aquecem fenomenalmente todos os dias. Uma luta por moléculas d’águas. Chão que já abrigou seres vivos harmoniosos. Que agora só abrigam resistentes lutadores de uma guerra sem fim. A família das espécies só foge daquele singelo local sem dono, sem ao menos estrumes para fertilizar seu chão. Vestígios da morte. Vestígios do egoísmo insaciável. Veredas sem faces e imagens. O pó se espalha num ambiente rude, formando figuras de nuvens sem começo, nem meio, e muito menos, de chegar a um fim. Viajantes sem rumo deixam seu clamor nas marcas dos passos. Um pedido de socorro. Quero viver de novo! Quero ter direito de moço! Quero construir meu povo!
A angústia de não conseguir nada toma suas providencias: o barulho estranho. O som vem de uma voz que quer algo. A força vital produz seu movimento brusco, como massa em crescimento em direção de si mesmo. Após tal gemido, tal clamor, a força retoma suas últimas posições. O brilho reflete algo que está por vir. Novamente seus olhos contemplam sua própria reflexão na forma circular. Sem ter membros para tocar aquela superfície, a natureza não consegue tocar seu objetivo, e nem construir seu próprio sustento. O esquecimento da bela Terra aparece: a pobreza, a seca, o agreste. Tudo desaparece na indiferença.
O som do vento ainda pronuncia algo que está para chegar. A velha entrada daquela casa contempla um fato. Uma ação infantil, bela e sutil, que em meio à frieza e o deserto deram aquele lugar o seu sustento eterno. O nascimento de um pedaço do paraíso. Nunca se soube de onde veio àquele viajante pequeno e sem rosto, que plantou a bondade. Mas é sabido até hoje que aquele lugar nunca mais foi o mesmo. O alimento e a fartura são os únicos sinais deixados daquela maravilhosa revelação de sua face.

Marcelo Fernandes dos Santos 31 de outubro de 2006

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