segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Conto Manha de domingo



Manhã de Domingo...

Era uma manhã ensolarada. Um dia especial. Um dia que todos podem cuidar dos seus bens. Podem todos se encontrarem para festejar o sol! Então naquele dia entre o sol e o calor despertado pelo tempo nasce o moreno. Por sua vez, todos os anos comemoram-se a festa do nascimento. Assim é o ritual do dia especial:
Oito horas toca o relógio, difícil despertar, mas já é hora do culto, do ritual. O café já está na mesa. Uma tomada no respiro e lá vai a manhã de ensinamentos sobre a vida. É chegado o momento do almoço. Todos estão chegando, uns mais cedo trazendo a mistura, outros mais tarde trazendo a sobremesa. Todos estão lá. Reunião familiar. Acontecem de tudo, risos e desavenças, mas o que vale é a presença. Presença no almoço do aniversário do Moreno.
Moreno convida os amigos. Amigos? Todos seus colegas são estranhos, finos e desjeitosos diante da fartura familiar. Cria-se a confusão. Morenos, mulatos, brancos, ameríndios, não distinção de uma cidadania. É tudo diversidade da história, dos grupos, das estruturas. Numa redoma familiar, a verdade é um modo diferente de encarar as classes presentes, assim tudo manifesta pela tentativa da união. União dita universal, pelo menos na língua e no entendimento das pessoas presentes!
É claro ver na simples casa em festa, os amigos de moreno, classe de gente brilhosa e transparente em cor. E na sua família é fácil também descrever sua face da exploração cultural. Mas o difícil é ver quem está feliz no dia especial. Pois uma coisa em comum existia: o consumo em ter tudo... Uns felizes por ter o original, a imagem européia e americana do importado, da moda imposta por uma classe imaginária, ao mesmo tempo, real. E a outra também se torna feliz por ter a cópia, do importado transmitido pela imagem dos sonhos: “um dia eu serei assim”.
Mas a festa continua todos comem e bem à vontade. E o sol vai se pondo, e todos vão se despedindo. Uns desejam felicidade, outros mostram sua fé cotidiana em desejar o bem. Ora é “Fica com Deus”, ora é “Vá em paz”. Todos estão se despedindo com fé. Fé na necessidade, para cobrir o vazio, o vazio pessoal dos desejos, dos gostos, do material e da tecnologia. Mas o som continua até ao anoitecer. Danças e criações. Eita criatividade! Nisto há originalidade brasileira é melhor que a portuguesa.
A festa de moreno acabou. O tempo passou. E o que sobrou? Lembranças da reunião familiar. Hoje moreno só lembra dos dias especiais que vivia na fé, na crença que tudo parecia verdadeiro. Hoje no seu balanço dos pensamentos o que restou foi somente uma coisa, a fé. Fé de que? A fé que tudo que ele construiu ficou escritas no calendário divino, nas páginas do sagrado. Do seu sagrado Domingo!

Marcelo Fernandes dos Santos

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