Manhã de Domingo...
Era uma manhã ensolarada. Um dia especial. Um dia que todos podem cuidar
dos seus bens. Podem todos se encontrarem para festejar o sol! Então naquele
dia entre o sol e o calor despertado pelo tempo nasce o moreno. Por sua vez,
todos os anos comemoram-se a festa do nascimento. Assim é o ritual do dia
especial:
Oito horas
toca o relógio, difícil despertar, mas já é hora do culto, do ritual. O café já
está na mesa. Uma tomada no respiro e lá vai a manhã de ensinamentos sobre a
vida. É chegado o momento do almoço. Todos estão chegando, uns mais cedo
trazendo a mistura, outros mais tarde trazendo a sobremesa. Todos estão lá.
Reunião familiar. Acontecem de tudo, risos e desavenças, mas o que vale é a
presença. Presença no almoço do aniversário do Moreno.
Moreno
convida os amigos. Amigos? Todos seus colegas são estranhos, finos e
desjeitosos diante da fartura familiar. Cria-se a confusão. Morenos, mulatos,
brancos, ameríndios, não distinção de uma cidadania. É tudo diversidade da
história, dos grupos, das estruturas. Numa redoma familiar, a verdade é um modo
diferente de encarar as classes presentes, assim tudo manifesta pela tentativa
da união. União dita universal, pelo menos na língua e no entendimento das
pessoas presentes!
É claro ver
na simples casa em festa, os amigos de moreno, classe de gente brilhosa e
transparente em cor. E
na sua família é fácil também descrever sua face da exploração cultural. Mas o
difícil é ver quem está feliz no dia especial. Pois uma coisa em comum existia:
o consumo em ter tudo... Uns felizes por ter o original, a imagem européia e
americana do importado, da moda imposta por uma classe imaginária, ao mesmo
tempo, real. E a outra também se torna feliz por ter a cópia, do importado
transmitido pela imagem dos sonhos: “um dia eu serei assim”.
Mas a festa
continua todos comem e bem à vontade. E o sol vai se pondo, e todos vão se
despedindo. Uns desejam felicidade, outros mostram sua fé cotidiana em desejar
o bem. Ora é “Fica com Deus”, ora é “Vá em paz”. Todos estão se despedindo com
fé. Fé na necessidade, para cobrir o vazio, o vazio pessoal dos desejos, dos
gostos, do material e da tecnologia. Mas o som continua até ao anoitecer.
Danças e criações. Eita criatividade! Nisto há originalidade brasileira é
melhor que a portuguesa.
A festa de
moreno acabou. O tempo passou. E o que sobrou? Lembranças da reunião familiar.
Hoje moreno só lembra dos dias especiais que vivia na fé, na crença que tudo
parecia verdadeiro. Hoje no seu balanço dos pensamentos o que restou foi somente
uma coisa, a fé. Fé de que? A fé que tudo que ele construiu ficou escritas no
calendário divino, nas páginas do sagrado. Do seu sagrado Domingo!
Marcelo Fernandes dos Santos
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